segunda-feira, 21 de junho de 2021

Um nativo americano do povo Sioux fotografado em frente ao Monte Rushmore. Dakota do Sul, Estados Unidos, 21 de junho de 1957

 Considerado um dos monumentos mais famosos dos Estados Unidos, o Monte Rushmore atrai mais de dois milhões de visitantes anualmente, que se locomovem até o local para observar os gigantescos rostos gravados sobre a rocha de quatro presidentes estadunidenses - George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. Muito antes da inauguração do monumento, entretanto, a imponente montanha de granito já era um importante ponto de peregrinação, visitado pelas culturas ameríndias que habitavam a região de Black Hills, nas Grandes Planícies.

O território onde se localiza o monumento era considerado terra sagrada por diversos povos indígenas desde a era pré-colombiana e o Monte Rushmore era o principal centro de devoção. A montanha era chamada pelos indígenas de "Tunkasila Sakpe Paha", ou Montanha dos Seis Avós. Servia de como sítio de oração e veneração aos ancestrais para diversos povos indígenas que habitavam as Grandes Planícies, incluindo os Lakota, os Cheyenne, os Omaha, os Kiowa, os Apaches e os Arapaho. A Montanha dos Seis Avós era particularmente importante para a cosmologia do povo Sioux, que a consideravam como o "centro do universo" e referência basilar de seu sistema de crenças.
Durante o período da Marcha para o Oeste, as terras indígenas de Black Hills passaram a ser invadidas por colonos euro-americanos, causando uma série de conflitos com a população nativa que habitava a região. Em 1868, o governo dos Estados Unidos e os líderes ameríndios assinaram o Tratado de Fort Laramie. O tratado reconhecia a região de Black Hills como reserva indígena e legitimava o direito dos nativos sobre a posse do território. Em contrapartida, o governo estadunidense passou a forçar a realocação de diversos grupos indígenas na reserva de Black Hills, tomando posse de territórios vistos como mais valiosos.
Menos de uma década depois, entretanto, os colonos descobriram ouro na reserva de Black Hills. O governo estadunidense imediatamente rompeu o tratado e passou a reivindicar o controle da região. Sucessivas campanhas militares foram organizadas para ocupar o território. A princípio, os nativos conseguiram resistir aos ataques e preservar a posse da terra. Em 1876, entretanto, o exército estadunidense organizou uma grande expedição, com um grande número de soldados bem armados, dando início à Grande Guerra Sioux, ou Guerra de Black Hills. As batalhas se arrastaram por dois anos, terminando com o massacre do povo Sioux e a tomada da região.
Imediatamente após a derrota dos indígenas, o governo estadunidense começou a incentivar a exploração econômica da reserva de Black Hills. Seis Avós, a montanha sagrada dos nativos, seria rebatizada como Monte Rushmore em homenagem a um dos primeiros empresários a estabelecer atividades comerciais na região. O milionário Charles Rushmore visitou Black Hills em 1884 para fundar uma mina de estanho. Rushmore retornaria à região várias vezes, em viagens de negócio ou atividades de caça, e passou a brincar que as visitas frequentes lhe davam o direito de rebatizar a montanha sagrada dos indígenas com o seu nome. Em 1925, Rushmore doou fundos para a construção do monumento com as faces dos presidentes. O governo estadunidense lhe retribuiu, oficializando a denominação "Monte Rushmore".
O monumento foi idealizado por Doane Robinson, membro da Sociedade Histórica do Estado de Dakota do Sul. Pouco tempo antes, Robinson conhecera um monumento na Geórgia cuja construção havia sido financiada por membros da Ku Klux Klan - Stone Mountain, um grupo escultural gravado na rocha em homenagem aos líderes confederados que lutaram a favor da manutenção da escravidão durante a Guerra da Secessão. Inspirado pela ideia, Robinson lançou uma campanha em prol da construção de um monumento similar em Dakota do Sul, que homenageasse figuras históricas e ao mesmo tempo ajudasse a incrementar o turismo na região.
A ideia foi imediatamente encampada pelos moradores do estado e pelo governo estadunidense. Gutzon Borglum, o mesmo escultor que concebeu o monumento confederado de Stone Mountain, foi contratado para executar a obra de Dakota do Sul. Fervoroso adepto da ideia da supremacia branca, Borglum tinha profundos vínculos com a Ku Klux Klan, integrando comitês da organização e comparecendo às suas manifestações. Também era amigo de David Curtiss Stephenson, um dos maiores líderes da KKK, que seria posteriormente condenado pelo estupro e assassinato de Madge Oberholtzer. Cartas assinadas por Borglum registram sua preocupação com a chegada de imigrantes aos Estados Unidos, rotulando-os como "uma horda de mestiços que ameçam a pureza nórdica do Ocidente". Outros manuscritos de Borglum dão testemunho de seu desprezo pelos povos indígenas.
A construção do monumento teve início em 1927, com Borglum à frente de uma equipe de 400 operários. Dinamite, picaretas e martelos pneumáticos foram utilizados para retalhar a antiga montanha sagrada dos indígenas e remover 450 mil toneladas de granito. A execução levou 14 anos. Borglum morreu antes de concluir o monumento, incumbindo seu filho Lincoln de finalizar a obra. Os fundos arrecadados não foram suficientes para esculpir os bustos dos presidentes, conforme originalmente planejado. Após a execução das faces, o monumento foi declarado concluído e inaugurado em 31 de outubro de 1941.
Assim, a sagrada Montanha dos Seis Avós, centro do universo do povo Sioux, converteu-se numa ode ao patriotismo chauvinista estadunidense, erguida sobre terra indígena roubada dos nativos massacrados. Não por acaso, os quatro rostos representados contribuíram para o genocídio das culturas ameríndias. Os escravagistas George Washington e Thomas Jefferson autorizaram os massacres pioneiros dos povos indígenas das treze colônias. Theodore Roosevelt desmantelou o Território Nativo Americano de Oklahoma e Abraham Lincoln enviou tropas para massacrar os indígenas que se sublevaram em Minnesota em 1862.



4 comentários:

  1. Mas que barbaridade, Gilnei, Isso significa que todo o esforço de Tex, Carson, Nuvem Branca e o General Davis foi em vão? Mensais 396 a 399.

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  2. Eu sempre vi as histórias do Tex seguir paralelamente com fatos e acontecimentos reais. Sempre me envolvo tanto com os relatos que por vezes me esqueço que esse personagem é uma obra de ficção (Será que é?).
    Aprendi bem mais sobre as culturas indígenas, politica e justiças nos quadrinhos do Tex do que em uma sala de aula.
    Ainda me recordo de uma aula de história onde a professora falava sobre o Centenário da Independência dos Estados e logicamente citou a histórica Batalha de Little Bighorn enfatizando o massacre de 40 indios e 240 soldados ( se bem me recordo dos números). Lembro-me de ter dito em voz alta que pior teria sido se Tex não estivesse lá kkkkk. (Tex 408)
    Obrigada por compartilhar e Parabéns Gilnei, por mais essa postagem incrivel! Uma verdadeira aula de história. ������
    Sei que já está ficando repetitivo(rsrs) mas sou fã incondicional do trabalho de vcs e não me canso nunca de elogia-los. Simplesmente esplêndido. Bjkas ����

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  3. Eu já não me surpreendo muito com essas histórias reais do velho oeste, pois acompanho pela Internet os desdobramentos políticos no Brasil.

    Não é muito difícil de se comparar nossa atual política brasileira com a política vigente no velho oeste americano.

    As patifarias são as mesmas e quem hoje se faz de defensor seja lá de quem, no dia seguinte pode tornar-se o pior adversário e inimigo daquele que até ontem defendia.

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  4. Gilnei, meu irmão isso se passou em todo o planeta... E, nós Tugas fomos dos primeiros a fazê-lo...

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